quarta-feira, dezembro 03, 2008

Os autómatos do futuro

Com o aparecimento do microprocessador, na década de setenta, realizaram-se previsões demasiado optimistas sobre o futuro dos autómatos. Julgavam-se que nos finais do século XX, os consumidores disporiam de autómatos inteligentes a que se poderiam dirigir falando a sua própria língua. Além disso, graças aos seus sensores, estes robôs poderiam adaptar-se ao ambiente de forma semelhante à dos seres vivos. Equipados com programas de inteligência artificial, seriam capazes de tomar decisões em situações não colocadas de antemão, mesmo com o risco de se enganarem, como acontece com os humanos.
Estes autómatos seriam tanto robôs industriais, que poderiam realizar grande número de trabalhos produtivos, como robôs domésticos, que atingiriam uma difusão semelhante à que tiveram os computadores.
Hoje sabemos que estas previsões eram demasiado optimistas. Teremos de esperar várias décadas para que os autómatos sejam capazes de aprender com as suas experiencias, para que possam tomar decisões em situações complicadas, para que possam inclusive ajudar-nos a tomas as nossas. Será necessário que passe algum tempo antes de poderem compreender e interpretar adequadamente a ironia, o sentido de humor, as frases feitas e, em geral, toda a subtileza da linguagem humana. Hoje em dia, só são capazes de interpretar ordens concretas, sempre que tenham memorizado previamente os registos de voz do utilizador.
Quanto aos sistemas de visão artificial, podemos dizer que, apesar de ser fácil captar uma imagem, o difícil é interpretá-la. O cérebro humano, quando recebe a imagem de um cavalo em movimento, da estátua de um cavalo, de um cavalo morto ou inclusive do seu esqueleto, sabe sempre que se trata de um cavalo. Ainda falta muito para que um robô possa fazer algo semelhante.

Problemas colocados pela automatização
Uma consequência muito temida da automatização é o desemprego. Podemos dizer, contudo, que as novas tecnologias são apenas um dos factores que intervêm nesse problema. A política económica dos governos, o preço da energia, o crescimento da população e a situação do mercado mundial, por exemplo, são outros factores que intervêm, de forma que é muito difícil determinar o papel exacto que desempenha a automatização no desemprego.
A tecnologia, além disso, não só destrói postos de trabalho, mas cria outros novos. Mas, em geral, este trabalho, exigem uma preparação profissional mais elevada de que carecem os trabalhadores que ficaram parados. Por outro lodo, os postos de trabalho gerados não se produzem na mesma empresa, nem sequer na mesma região ou no mesmo país. Alguns economistas defendem o conceito de mobilidade laboral, já que no futuro vai ser muito difícil conservar o mesmo trabalho na mesma localidade ou na mesma empresa, durante toda a vida.
A ideia de que as novas tecnologias criam tantos postos de trabalho como os que destroem é difícil de sustentar actualmente. Por este motivo, tanto os governos como as empresas começam a estudar a possibilidade de reduzir a jornada laboral, fomentar o trabalho a tempo parcial e eliminar as horas extraordinárias, entre outras medidas encaminhadas para a redução das fortes taxas de desemprego que se sofre na Europa.
Outro factor a ter me conta é que o desenvolvimento das telecomunicações está a acabar com as barreiras naturais que até agora defendiam a intimidade dos dados pessoais: o tempo e o espaço. Com efeito, sem os actuais meios telemáticos não era fácil, até há pouco tempo, obter informação sobre pessoas que viviam em lugares remotos. Além disso, os dados relativos às pessoas próximas iam sendo esquecidos com o passar do tempo. Contudo, nos nossos dias, a informatização torna possível aceder a esses dados em segundos, apesar de terem sido armazenados vários anos antes. Por outro lado, o desenvolvimento das telecomunicações permite enviar dados pessoais para lugares muito longínquos de forma praticamente instantânea. Desta maneira, as duas barreiras naturais, o espaço e o tempo, já não nos protegem.
Os gostos das pessoas serão cada vez mais uniformes e, no fim do processo, perder-se-á qualquer vislumbre de individualidade e de liberdade. A sociedade inteira estará submetida a um suposto bem comum tecnocrático.

A sociedade de ócio
Segundo outros especialistas, podemos ser mais optimistas em relação ao futuro. Melhorarão as condições de trabalho, já que os autómatos se ocuparão das tarefas mais duras, perigosas, degradantes ou repetitivas. Com o desenvolvimento da telemática, muitos dos trabalhos que os robôs não realizarem poderão ser efectuados a partir do próprio lar, já que o computador doméstico disporá dos sistemas audiovisuais adequados e estará ligado através do telefone com os computadores dos centros de trabalho. Uma consequência imediata deste fenómeno é a dispersão da população. Já não será necessário que os trabalhadores se concentrem em cidades enormes com todos os inconvenientes que isso implica. Aumentará a tendência, que actualmente começa a desenhar-se, de viver em pequenas comunidades, em contacto com a natureza, de modo que as possibilidades de poupança de energia, graças à melhoria das comunicações e à construção de casas inteligentes. De qualquer modo, a partir do ano 2050, segundo s previsões, as centrais de fusão e o desenvolvimento dos supercondutores acabaram com as penúrias energéticas, já que serão capazes de proporcionar-nos mais energia do que a que necessitamos.
Como consequências da automatização, aumentará o tempo livre dos trabalhadores, já que o dia de trabalho se reduzirá progressivamente. Com o tempo, é possível inclusive que mal tenhamos de trabalhar. É o que se chamou de sociedade de ócio. Em que vamos empregar tanto tempo livre? Os mais optimistas acreditam que vamos utilizá-lo para realizar actividades criativas, lúdicas ou desportistas. Educar as novas gerações para que saibam empregar criativamente o tempo livre não vai ser fácil, mas é o desafio do futuro. Só assim podemos evitar uma sociedade na qual seja possível obter tudo menos a felicidade.

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